O surto psicótico causado pela beleza de Florença | Conheça a Síndrome de Florença
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Já se sentiu ansioso ou desnorteado ao contemplar alguma obra de arte? Isso pode ser resultado da Síndrome de Stendhal, também conhecida como Síndrome de Florença ou hiperculturemia. Essa é uma condição psicossomática e psicológica caracterizada por um profundo estado de êxtase quando o entusiasmo do turista entra em contato com obras de grande valor artístico na cidade.
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"Eu caí numa espécie de êxtase ao pensar na ideia de estar em Florença, próximo aos grandes homens cujos túmulos eu tinha visto. Absorto na contemplação da beleza sublime… Cheguei ao ponto em que uma pessoa enfrenta sensações celestiais… Tudo falava tão vividamente à minha alma… Ah, se eu tão-somente pudesse esquecer. Eu senti palpitações no coração, o que em Berlim chamam de 'nervos'. A vida foi sugada de mim. Eu caminhava com medo de cair."
Este é o relato do escritor francês Henri-Marie Beyle (1783-1842), conhecido como Stendhal, que dá nome ao surto. Ele descreve sua experiência diante das obras da Basílica de Santa Cruz, em Florença, contida em seu livro "Roma, Nápoles e Florença".
A origem do termo Síndrome de Florença:
A síndrome foi descrita cientificamente em 1979 pela psiquiatra e psicanalista italiana Graziella Magherini, no livro "La sindrome di Stendhal: Il malessere del viaggiatore di fronte alla grandezza dell'arte". Ela explica que a doença está relacionada ao valor simbólico das emoções diante de uma grandiosa analogia em diferentes contextos e tempos. Pode ser desencadeada pelo impacto que os viajantes sofrem ao entrar em contato com culturas bastante diferentes da sua.
A importância histórica de Florença e o caráter extremamente realista presente em suas obras de arte são apontados como possíveis desencadeadores do surto.
Segundo Eike Schmidt, diretor da Galleria degli Uffizi (Galeria dos Ofícios), museu mais visitado de Florença, alguns incidentes ocorreram diante de obras como "A Primavera" e "O Nascimento de Vênus", de Botticelli, e a "Cabeça de Medusa", de Caravaggio.
Embora seja mais observado em Florença, outras cidades históricas como Paris, Jerusalém, Atenas e Roma também são apontadas como desencadeadoras do surto. Sigmund Freud e Dostoiévski relataram experiências semelhantes ao visitar outros locais.
Os sintomas da Síndrome de Florença incluem taquicardia, fadiga, vertigem, desorientação, alucinações, tristeza, perda de identidade e até tentativas de destruição da obra de arte em questão. Recomenda-se descansar em caso de sintomas, respirar bem entre as contemplações e os sintomas geralmente desaparecem entre dois e oito dias.
A hiperculturemia é, portanto, uma forte expressão de desconcerto diante da beleza, levando o indivíduo a estados de consciência antes inexplorados. O surto pode ser encarado como um processo de integração, permitindo conhecer outras dimensões do próprio ser e outras perspectivas sobre a realidade.
Fontes:
- https://jornal.usp.br/atualidades/beleza-da-cidade-de-florenca-pode-causar-surto-psicotico-em-turistas/
- https://www.bbc.com/portuguese/geral-45624405
- https://brasil.elpais.com/brasil/2018/12/25/cultura/1545759995_384096.html
- https://br.psicologia-online.com/sindrome-de-stendhal-causas-sintomas-e-tratamento-98.html