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Coração da Névoa

Sob as névoas densas e eternas da Cidade das Almas, o tempo parece ter esquecido de seguir adiante. As ruínas, cobertas por um silêncio que sussurra segredos antigos, guardam a presença de uma figura que nunca se permitiu desaparecer. Elyn, a alma que espera, vaga entre os escombros com passos leves como o vento. Sua forma é esquelética, mas seus olhos — dois corações de luz pálida — ardem com um brilho que desafia a eternidade.

Há séculos, quando o limite entre o mundo dos vivos e o dos mortos ainda era tênue, Elyn fez uma promessa a um viajante. Sob o céu que se tingia de aurora, jurou esperá-lo até que o último prédio da cidade caísse em ruínas. Ele partiu, levando consigo o calor de uma promessa que o destino nunca permitiria cumprir. Pois o tempo, esse carrasco que tudo ceifa, tomou o corpo de Elyn antes que a primavera voltasse — mas não levou o seu amor.

Desde então, ela permanece. A cada brisa que passa pelas janelas quebradas, murmura o nome de quem nunca retornou. As almas errantes que cruzam seu caminho dizem que o crânio ornamentado com corações não é sinal de morte, mas de um amor que se recusou a se extinguir. Um amor que, mesmo esquecido pelos deuses, permanece pulsando nas sombras — condenado a esperar até o próprio esquecimento desabar.

Na Cidade das Almas, onde tudo se dissolve na névoa, Elyn é o único vestígio de algo que nem o tempo, nem a morte, conseguiram apagar.

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