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Dror corria, lançava feitiços rápido, raciocinava mais rápido ainda. As mãos cobertas de sangue, a respiração presa na garganta. Os olhos arregalados pensando em tudo, em toda a desgraça, em como e porque tudo tinha que ser e esatr acontecento daquele jeito. O chão tremia, não por terremoto, mas por magia. Gritos, muitos e muitos gritos, de socorro, de ataquem, de matem eles. Relâmpagos vermelhos cortavam o céu, o mesmo fogo que derretia o gelo de estacas que vinham para matar, também era usado pelos inimigos para queimar a carne viva de deus aliados. O mundo parecia prestes a acabar.

Ele parou no alto da colina, onde o mar tocava o horizonte. Ali estavam os três grandes magos de Elfin, Dror, Sanat e Salor. Eles, liderando muitos seres, outros magos, guerreiros, elfos, anões, grifos, quimeras, globins, gigantes, arqueiros, contra as forças aliadas de Nosferas e Baldur.

Dror ergueu as mãos, conjurando uma esfera azul que girava em chamas, pronta para ser lançada e destruir grande parte das tropas aliadas. Mas antes que soltasse, um feixe dourado de luz que escureceu tudo por tamanha luz, como o lançamento de um fogeue, veio do céu e o atingiu no peito.

Não deu tempo de gritar.

Seu corpo parou. Depois pesou. Os olhos ainda abertos, viram a luz se apagar. O mundo escureceu. Mas sua mente continuou.

Ele caiu no mar. Afundou. E, de algum modo, despertou numa praia.

Não como homem. Mas como pedra.


Os dias vinham, e iam.

O sol nascia, aquecia, ia embora. À noite, a brisa vinha gelada, com cheiro de sal. E depois, de novo. E de novo. E de novo.

Dror não podia dormir. Nem se mover. Nem gritar.

Ele só via. E pensava.

A vida acontecia ao redor: ondas quebrando com preguiça, gaivotas brigando por restos de peixe. O mundo seguia. E ele estava fora dele.

Como se tivesse morrido, mas sem o alívio do fim.

E então veio o vazio.

Um vazio que era maior que o mar. Não o tipo de vazio que grita, mas o que sussurra o tempo todo. Um silêncio que pesa mais que montanhas.

A pedra não dói, mas o que vive dentro dela, sim.

Dror passou anos tentando lembrar o som da própria voz. Tentou imaginar o toque da pele, o calor do fogo. Mas tudo escorregava da memória, como água entre dedos que não existem mais.

E ele começou a pensar.

Pensar como nunca pensara em vida. Se a liberdade é o corpo... então ela morre com a carne?
Se o mundo gira e você não pode acompanhá-lo, você ainda existe?
Ou será que somos apenas reais enquanto tocamos?


As estações mudavam. O vento trazia cheiros diferentes. Flores nasciam, morriam. O céu chorava. O céu sorria.

Ele via tudo. Preso.

Não havia grades. Mas havia o tempo.

E o tempo era o maior carrasco.

Alguns dias, desejava enlouquecer. Outros, implorava por um raio que o quebrasse ao meio.
Mas o universo é cruel com os que esperam milagres.

Então ele começou a ouvir. Ouvir a si mesmo. A escutar o eco de seus próprios pensamentos, como quem desce sozinho numa caverna sem fim.

Ali, nesse silêncio, aprendeu o que é estar vivo por dentro mesmo quando tudo fora está morto. 

Começou a encontrar sentido não no movimento, mas na consciência.
Não no toque, mas no olhar.

Como se cada segundo parado fosse uma lâmina esculpindo sua alma.
Como se a dor deixasse de ser inimiga, e virasse linguagem.

E foi aí, quando já não restava esperança...
...que Dror percebeu que não era a pedra que estava presa.
Era o mundo que corria demais.