Nas profundezas de uma caverna esquecida, uma aranha solitária tecia sua teia no silêncio, como sempre causara. Mas algo mudou naquela noite. Ao consumir o último par de olhos de uma presa, foi invadida por uma sensação que nunca houve experimentado: veja que não absorve apenas carne e sangue, mas memórias, pedaços de vida. Sentiu os sonhos, as alegrias e os medos daquelas criaturas passando por seu ser, como um rio de histórias.
Aquilo se transformou. Em vez de tecer apenas para capturar, começou a tecer para contar. Cada fio que produzia era um fragmento, cada nó guardava uma lembrança. Sua teia tornou-se um imenso mural, onde as vidas de suas presas eram preservadas como parte de uma obra que ninguém poderia destruir.
A caverna logo ecoava com as histórias sussurradas: criaturas que passavam por ali podiam quase ouvir as vozes dos que se foram, memórias que evocam vivas nos fios delicados da aranha. Ela, que antes era apenas uma predadora, tornou-se guardiã das memórias, uma contadora na escuridão. E assim, suas promessas se mantiveram silenciosamente: ninguém mais seria esquecido, pois cada vida que cruzasse seu caminho viveria para sempre em sua teia.
inayra.