Às vezes, quando me vejo presa em um rotina, esses pensamentos intrusivos surgem como pequenos terremotos na minha mente. Enquanto tento me concentrar em seguir o meu dia, uma voz me lembra de algumas vontades escondidas, das aventuras que poderiam estar além das paredes do meu cotidiano, do escuro do meu quarto.
Eu me imagino escapando, deixando para trás os ponteiros do relógio que parecem ditadores impiedosos do meu tempo. Me vejo correndo descalça pela grama úmida ao amanhecer, sentindo a liberdade nos meus pulmões, em vez do aperto ansioso do cronograma que me aprisiona. Das responsabilidades que carregam minhas costas.
Às vezes, essa voz intrusa sussurra desejos, de abandonar todas as responsabilidades por um momento e me perder nos meus sonhos. Como seria viver em outra realidade, no corpo de outro ser, sem me preocupar com o mundo exterior, ou com o fardo que carrego de ser só a Gamm? Ou quem sabe seguir os caprichos do paladar, explorando sabores desconhecidos sem se importar com a monotonia das refeições esquentadas no micro-ondas?
É como se uma parte de mim ansiasse pela quebra das correntes desse ciclo, mesmo que outra parte ainda se apegue à segurança reconfortante da rotina. É uma espécie de conflito interno, uma batalha entre o desejo de liberdade e a necessidade de estrutura. Penso, de vez em quando, que seria melhor se eu nunca tivesse existido, desde pequena sempre me senti escrava dos desejos alheios, e dos meus próprios devaneios.
Então, eu fecho os olhos por um momento, deixando esses pensamentos intrusivos explorarem minha consciência. Reconheço sua presença, mas escolho não ceder completamente a eles. Porque, no final das contas, sei que encontrar equilíbrio entre a liberdade e a estrutura é a chave para a minha paz interior. E enquanto a rotina possa parecer opressiva às vezes, também me oferece um refúgio seguro...
Ass.: Gamm