JustPaste.it

Espirito Amoroso

 Clarice deitava-se soltando todo o peso do corpo, quem dera pudesse também soltar o peso de seu coração. O que faria agora? Daria uma segunda chance? Ou seria melhor voltar para vida de solteira? Clarice fechou os olhos e imaginou-se em cada situação. Se optasse pelo divórcio, seria uma mulher livre desse relacionamento que de um dia para o outro tornou-se doloroso. Sofreria com as lembranças doces da união, sentiria a estranheza de uma cama de solteiro, a refeição individual, os passeios sem mãos dadas com alguém.

 E depois? Talvez, não, com certeza, doeria menos. Ela poderia aproveitar para cuidar de si mesma, encontrar novas pessoas e, quem sabe, até encontrar um novo par caso queira.

 Por outra opção, imaginou-se voltando aos braços de Roberto, ele pediria perdão e a abraçaria. Eles voltariam a ver filmes juntos, jantares românticos e dormir de conchinha. Um casal perfeito... ou não. Clarice tinha certeza de que nada valeria essas coisas se não houvesse por sua parte a base de qualquer relacionamento: a confiança. E como confiar em alguém que uma vez teve coragem de cremar sua fidelidade? Ao se imaginar paranoica toda vez que Roberto saísse ou conversasse com outra pessoa, ao se imaginar ansiosa para pegar o celular do amado quando ele não estivesse por perto para ter certeza de que ele não estaria conversando com mais ninguém, uma lágrima escorreu no rosto de Clarice que finalmente entendeu e decidiu: não há cura para nossa confiança, e não há felicidade em uma relação onde não há laços, apenas correntes. Não há casamento que troque pela sua própria saúde mental. Enquanto isso, o celular de Clarice tocava uma vez atrás da outra, obviamente, Roberto. No último toque, Clarice atendeu disposta a tirar o peso de seu peito amargo. Apenas desejou a Roberto tudo de bom e encerrou a chamada com a certeza de que fez a escolha certa. Agora solteira, Clarice suspirou de alívio.

 

- yunki, habblive