JustPaste.it

O urso

Encontrado em uma miúda caixa esquecida no sótão, o urso de aparência gasta, com asas jeitosas, parecia carregar séculos de histórias em silêncio. Seu corpo, marcado por costuras desfeitas, revelava que já havia pertencido a muitas crianças.
Dizia-se que, em noites de lua minguante, o ursinho ganhava vida e voava vagarosamente. Ele não procurava aventuras, mas memórias. Visitava petizes que haviam perdido seus brinquedos favoritos, adultos que esqueceram seus sonhos de infância e idosos que guardavam memórias.

 

Ninguém o via chegar, mas quem sonhava com ele acordava diferente, mais leve, como se tivesse reencontrado algo esquecido dentro de si. Em uma dessas noites, parou diante de um menino que guardava silêncio demais para sua idade. O ursinho tocou sua testa com a ponta da asa e, de repente, o menino sorriu dormindo, como quem lembrava de um abraço antigo. Era isso que o urso fazia, recolhia os pedaços dispersos da infância e os costurava de volta, com paciência e cuidado. Não precisava de palavras, bastava estar ali, presente, onde a saudade pesava mais.