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Floresta de Maldições

 O que te espera no interior de uma floresta amaldiçoada? 🌲

 

   Era uma terça-feira fria durante o mês de junho, um dia comum durante a semana, não havia nada que fizesse daquele dia um dia especial além de uma prova chata que eu havia passado a madrugada estudando, eu comumente seguia caminho para a escola às 6:10 da manhã, e pegava um ônibus na praça mais próxima, no entanto, nesse maldito dia eu havia despertado um pouco mais tarde, a princípio pensei que não tinha ouvido o despertador tocar, ou que ele estava quebrado e havia parado às 5:30 da manhã, mesmo horário que ele costumava me levantar com aquele atormentador som que podia ser descrito como "bom dia, seu inferno vai começar", era o que eu costumava pensar até ter que enfrentar o pior dia da minha vida.

  Algo estava diferente, os pássaros não cantavam, e quando eu ia saindo pelas ruas, a calmaria e o silêncio absoluto me despertava calafrios, no entanto apressei o passo até chegar à praça, mas havia algo estranho, fiquei plantado por mais de 20 minutos e não havia sequer um sinal do ônibus ou de outras pessoas esperando naquele ponto, logo de cara havia imaginado que o ônibus já houvesse passado por ali, no entanto, eu não podia faltar naquele dia, era dia das provas finais do semestre e eu precisava dar um jeito ou iria me ferrar. Foi então que um ônibus velho e surrado dobrou a esquina, nele havia um velhinho simpático sob sua condução, o ônibus estava vazio, mas o velhinho parecia ser uma pessoa boa.

   - Está atrasado para a escola jovem? cof cof.

Dizia o velhinho com uma voz calma, seguido de uma tosse.

   - Ande rapaz, apresse-se, você não vai querer perder sua última prova do semestre.

   A princípio não tinha notado, mas como ele sabia que era a minha última prova? eu deveria ter corrido naquele momento, se soubesse o que estava prestes a acontecer.

  O ônibus seguia um caminho um pouco diferente, eu imaginava que como se tratava de uma rota alternativa, mas estava mais preocupado com as horas, então perguntei ao motorista:

    - Senhor, você poderia me informar sobre as horas? receio que estou um pouco atrasado!

  Não houve resposta alguma vindo daquele assento, nesse momento o ônibus passava por uma estrada ao lado de uma floresta gigantesca, na medida que passávamos por dentro, eu ouvia um som sinistro de freio e pneu arrastando, não é possível que exista um ponto de ônibus no meio do nada, indaguei ao motorista:

   - Olá? Aconteceu algo de errado com o ônibus? por acaso ele quebrou?

  E o velhinho com um sorriso desceu do veículo e pôs a desaparecer pela neblina. Eu sabia que algo estranho estava acontecendo, fiquei dentro do ônibus por mais de 4 horas, fiquei torcendo para que algum veículo passasse por ali, mas parecia que não havia sinal de vida nos próximos 10km dali, então em uma tentativa desesperada de sair daquele lugar, decidi descer do ônibus e ir de encontro ao motorista. Enquanto eu entrava floresta à dentro, a neblina ia ficando mais densa, por mais que fosse dia, parecia uma noite escura, quando percebi estava completamente perdido. No meu bolso havia apenas uma lanterna de pilhas, mas eu sabia que não duraria muito tempo, então tentei poupar, eu precisava sair dali o quanto antes. Em uma tentativa de retornar ao ônibus, recordo de não encontrar o caminho de volta, parecia que a floresta me empurrava para o seu interior, era como se ela estivesse viva. O tempo naquele lugar parecia estranho, quanto mais eu ficava ali, as arvores pareciam se contorcer lentamente. Eu estava assustado, mas sabia que não podia ficar parado naquele lugar, eu precisava buscar uma saída ou algum sinal de vida, constantemente eu ouvia sussurros que espreitavam as sombras obscuras de arvores cujo tronco era mais escuro que a própria noite, até que ouvi um estalo estrondoso seguido de um grito feminino vindo próximo a uma clareira, aquele lugar parecia diferente, quando vi a luz da lua percebi que já havia anoitecido, o que me deixou ainda mais intrigado, a floresta parecia mudar de forma. Eu estava disposto a entrar mais dentro e descobrir a origem daquele grito, alguém mais poderia estar perdido ali, seria uma ótima chance de unir forças e tentar procurar um abrigo para passar a noite.

  Demorei alguns minutos passando pela floresta até chegar a uma segunda clareira, na parte mais escura eu ouvia o som de choro, era realmente uma mulher, tentei me aproximar, mas ela estava assustada.

   - AFASTA-SE!! Você precisa sair daqui o quanto antes, ele está perto, não!! não!! não!

  Dizia a mulher enquanto se rastejava entre a folhagem. Pensei que ela estivesse delirando, e mais uma vez tentei me aproximar, mas fui parado pela imagem de uma enorme criatura humanoide magra e com um crânio que parecia de um cervo em sua cabeça, aquilo me deixou em estado de choque, ele se movia para perto da garota. Sem pensar duas vezes eu corri o mais rápido que pude na direção oposta, ouvindo os gritos ensurdecedores de agonia e desespero, a floresta agora cheirava a morte.

   Quanto mais eu atravessava aquela imensidão verde escura e preta, tons de vermelho iam surgindo, as arvores pareciam vivas e sangravam, o cheiro de putrefação tomava conta do ambiente, eu sentia que estava próximo da morte, entre os troncos sangrentos eu podia sentir mais de uma criatura a me observar, achei que havia chegado a minha hora, não havia escapatória, me curvei diante um túmulo de galhos e pedras que estava diante os meus olhos, ouvi uma voz soprar o meu ouvido: 

   - Este é o seu túmulo, mas ainda não chegou a sua hora!

A última coisa que me lembro após isso, é de uma pancada na cabeça e meus olhos fechando calmamente, com vozes de fundo ecoando de forma inaudível.

   Após isso fui encontrado na manhã seguinte na estrada que dava acesso a uma grande reserva ecológica, fui levado ao hospital por um casal de jovens que passavam por ali, era como se eu apenas tivesse desmaiado, não havia machucado ou lesão alguma, mas eu sabia o que tinha acontecido, o cheiro de morte ainda estava marcado em minhas narinas. Até hoje tenho sonhos com aquele túmulo macabro, ainda sou coberto de dúvidas, o que me esperaria no interior daquela floresta no dia de hoje? Quando chegará a minha hora afinal?

 

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Astrokyoji - Habblive