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O Toque da Morte

          Era um medo que não surgia com um grito, mas sim, através do tortuoso silêncio. A mudez da noite se tornara mais espessa, como se o próprio ar coagulasse em torno daquela figura que emerge contra a lua. Nosferatu não se movia; apenas manifestava-se mediante seu espectro fúnebre que persiste há séculos, refém da essência mais íntima dos vivos. 

 

          Mas o verdadeiro horror, o pânico que gelava a medula dos ossos, não estava apenas em seus olhos opacos e vazios, nem na palidez cadavérica de sua pele esticada sobre ossos. A repulsa mais profundo residia em suas mãos.

 

          Eram longas, desproporcionais, como as garras de uma aranha repousadas após a caça. As falanges esguias terminavam em unhas que não eram meramente sujas, mas sim profanadas. Eram da cor de terra, encarquilhadas e espessas; As pontas finais de sua alma necrótica.

 

          Ao estender a mão maculada, o mundo ao seu redor definhava. A luz das velas parecia recuar, encolher-se, e o ar tornava-se frio e estático. O medo que seus dedos geravam era o de uma contaminação absoluta. Não como o toque da morte rápida de uma lâmina, mas o de uma praga espiritual. Imaginá-los pairando sobre a pele nua era sentir uma náusea ancestral. 

 

          O maior pavor, portanto, era ser tocado. Vislumbrar os dedos esguios, que pareciam capazes de sussurrar segredos da podridão, se aproximarem do pescoço, do pulso, da testa. Era saber que, antes que os dentes vampirescos encontrassem a veia, aquelas pontas profanas já teriam escrito na sua pele o seu destino final, marcando-o com a assinatura gelada e eterna de Nosferatu. Era a certeza de que, uma vez tocado por tais mãos, você não pertenceria mais a si mesmo, mas à noite perpétua que ele carregava nas falanges funestas. 

 

Ethel - Habblive

(Promoção  "Toque da morte" )