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Prossiga #4

Me chamo Miguel, possuo 15 anos, moro na Zona Oeste, São Paulo. Minha vida estava tudo mil maravilhas até o dia 18/03/2020 às 09h00 da manhã, quando recebi uma ligação do meu padrasto, dizendo que minha mãe estava passando mal e que foi encaminhada ao hospital em estado grave. Perguntei o que tinha acontecido, porém, ele me dizia que não podia falar agora e me passou o nome do hospital. Fiquei agoniado e sufocado, querendo saber o que tinha acontecido com ela, imediatamente chamei um táxi e fui até o hospital. Chegando lá, encontrei com meu padrasto, que me disse o que teria ocorrido com minha mãe... Fiquei sem reação e desmaiei! Ao acordar, olhei em redor e não vi ninguém, apenas as paredes brancas do quarto hospital. Pensei novamente no que o meu padrasto havia-me dito. Que a minha mãe havia tido um princípio de ataque cardíaco e que muito provavelmente, teria que ser operada ao coração.

Levantei-me da cama onde estava e sai do quarto. Ao sair, deparei-me com o meu padrasto de olhos fechados, sentado numas cadeiras logo à entrada do quarto. Ao aperceber-se que a porta tinha sido aberta, abriu os olhos e perguntou:

- "Sentes-te melhor filho? Pregaste-me um valente susto!".

- "Sim! Como está a mãe? Já tens alguma notícia?" - perguntei preocupado.

- "Ainda não, os médicos ainda não disseram nada..." - disse desanimado - "Mas vais ver que tudo ficará bem!" - tentou animar-me.

- "Sim, esperemos que sim!" - tentei soar positivo.

O nosso diálogo terminou por ali, nenhum de nós conseguia dizer mais nada de tão preocupados que estávamos. Sentei-me lado a lado com o meu padrasto e aguardámos. Passou-se algum tempo, talvez minutos, talvez horas, e finalmente apareceu uma enfermeira. Levantámo-nos apressadamente e perguntámos à enfermeira pela minha mãe.

- "Finalmente conseguimos estabilizar o estado da dona Luísa. Podem ir vê-la, mas a mesma precisa de descanso, pelo que peço que não a acordem".

Concordámos com a enfermeira e pediu-nos para que a seguíssemos. Ela levou-nos para outro piso hospital, para a zona dos cuidados intensivos. Ao chegar-mos à porta do quarto, a enfermeira voltou a reforçar que a minha mãe precisava de descanso e que em cinco minutos voltaria para nos buscar, já que esse era o tempo máximo.

Entrámos e o que vi, deixou-me desamparado. Lá estava ela, muito pálida e cheia de máquinas e fios ligados a si. Senti as lágrimas virem-me aos olhos, mas mesmo assim aproximei-me da maca e da minha mãe, dando-lhe a mão.

Por dentro, estava de coração partido e a rezar para que tudo ficasse bem. O meu padrasto preferiu ficar na porta, notando que eu precisa do meu espaço com minha mãe. Admito, à dois anos atrás, se me perguntassem se ia gostar dele como gosto nos dias de hoje, diria que era impossível. Não o conseguia suportar por nada, porque ele estava tentando roubar o lugar ao meu pai biológico. Só quando me apercebi que a minha atitude estava errada é que lhe dei uma oportunidade e desde aí, nunca me desiludiu.

Os cinco minutos passaram sem sequer me dar conta. Quando dei por mim, estava a ser "expulso" do quarto pela mesma enfermeira que nos tinha levado até ao quarto. A mesma nos informou que só poderíamos voltar a vê-la no dia seguinte e que caso acontecesse algo, ligariam, por isso fomos para casa descansar.

No dia seguinte acordámos cedo, nos despachámos e fomos direto para o hospital. Quando lá chegámos, soubemos que durante a viagem, a minha mãe havia tido outro início de AVC e que estava naquele momento a ser preparada para uma operação de emergência. A nossa preocupação aumentou drasticamente e não aguentei o choro, abraçando-me ao meu padrasto. Disseram-nos que só passadas algumas horas é que saberíamos mais alguma coisa, portanto fomos aguardar na sala de espera. Foram sem dúvida as horas mais excruciantes da minha vida. De tempo em tempo, quando víamos enfermeiros passar, perguntávamos sobre a operação, mas não nos diziam nada.

Já era quase noite, quando finalmente saíram pelas portas um médico. Fez contato visual connosco e dirigiu-se até nós. De imediato perguntei:

- "Como está a minha mãe?" - perguntei super preocupado.

Ele não disse nada, chamou o meu padrasto à parte e viu-os conversar. Achei super estranho isto e o meu coração não estava a aguentar. Vi o médico voltar para dentro e o meu padrasto a dirigir-se até mim. O seu rosto, era uma mistura de emoções. Ele estava a chorar e percebi que estava tudo errado. Ele chegou-se até mim e entre o choro disse-me:

- "Filho, o pior aconteceu... Houveram complicações durante a cirurgia e a mãe não aguentou..." - disse entre soluços.

Foi aqui que a ficha caiu e o meu coração despedaçou-se por completo. Não podia acreditar que ela se tinha ido... Foi um choque total para mim e não conseguia reagir. Demorei a processar o que o meu padrasto me havia dito e quando o fiz, o choro e a raiva tomaram conta de mim. Passaram-se minutos, que pareceram eternidades e nem assim conseguia acalmar-me.

Naquele dia, senti um vazio profundo dentro de mim, um vazio que até hoje não consegui preencher. O meu único consolo em tudo isto foi ao visitar a campa da minha mãe todos os domingos, na companhia do meu padrasto, que também sofria imenso com a perda.

Mostrem todos os dias o que sentem às vossas mães, porque o futuro é incerto e não sabemos o que virá a seguir. Elas são guerreiras e fazem tudo por nós, e nós por vezes, não lhes damos o devido valor.

Fim.

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Morgado, 20 de março de 2020.

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