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Sob o céu rubro de um crepúsculo sem fim, o viajante retorna às minas. O ar é pesado, o chão pulsa sob seus pés — como se o próprio solo ainda lembrasse do grito das chamas antigas. As rochas negras exalam o cheiro agridoce da cinza e do ferro. Cada passo ecoa um nome esquecido, um sussurro que não quer morrer.

No coração da mina, o véu da fumaça se abre. Lá está ele. O Encarnado do Fogo. Diablo.
O capuz oculta seu rosto, mas seus olhos — duas brasas que nunca se apagam — atravessam o tempo e a alma. Não há som, apenas o respirar do inferno que desperta.

O viajante ergue sua lâmina, forjada do mesmo metal que selou as catacumbas séculos antes. As runas brilham, e o ar vibra com a antiga promessa: “Enquanto o fogo viver, a culpa persistirá.”

O embate não é de aço e carne, mas de vontade. O viajante sente o calor consumindo sua memória, o rosto dos que amou se desintegrando em fumaça. Diablo não ataca; ele observa, esperando que o medo conclua o que as chamas começaram. Mas o viajante dá um passo adiante. Um só. E o mundo estremece.

Com um grito que rompe a eternidade, ele crava a lâmina no chão. As rochas se abrem, e um vento gelado invade o inferno. As brasas vacilam. A sombra de Diablo hesita — e por um instante, o silêncio parece mortal. O fogo se retrai, o tempo respira, e o nome proibido ecoa pela última vez, dissolvendo-se no nada.

Quando a luz retorna, as minas estão vazias.
A vila desperta com o cheiro de chuva. Pela primeira vez em séculos, o chão não queima. As cinzas se tornam solo fértil, e onde a maldição dormia, brota o primeiro broto verde.

Mas, nas profundezas, uma única brasa ainda arde.
Fraca. Paciente. Esperando o próximo suspiro do arrependimento humano.