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Houve um tempo em que eu evitava os espelhos. Não por vaidade ou insegurança, mas porque os reflexos me entregavam uma versão que eu não compreendia, ou pior, que os outros me ensinaram a rejeitar. Crescer em um ambiente onde "ser diferente" era sinônimo de "estar errado" plantou raízes profundas de vergonha. E como se isso não bastasse, aprendi a sorrir como defesa, a performar um personagem aceitável, a esconder o que doía só para continuar pertencendo. A dor não veio de um acontecimento isolado. Veio acumulada: nos silêncios constrangidos, nas conversas interrompidas quando eu chegava, nas piadas que diziam ser apenas “brincadeiras”. O pior de tudo era o cansaço de fingir, como se cada gesto fosse premeditado para não provocar desconfiança. Mas um dia, eu desisti. Não de mim, mas de agradar o que me feria. Foi quando perdi pessoas, sim. Mas, curiosamente, foi quando encontrei outras. Descobri que há amizades que não te perguntam o porquê, apenas te acolhem no como. Que há amores que não esperam versão moldada, mas sim a verdade inteira. E que há um mundo fora das paredes estreitas onde cresci. A volta por cima não foi um salto, foi um caminho longo. Se a cor laranja representa superar, que ela me pinte por inteiro. Não porque tudo está resolvido, mas porque escolhi continuar e isso, por si só, já é vitória.