JustPaste.it

Elias e o Diablo

Em 1913, a vila montanhosa de carvão foi engolida por uma combustão silenciosa e eterna. Túneis ardiam, moradas colapsavam, e o ar corrosivo forçou um êxodo inevitável. A queima jamais cessou, e os sussurros falavam de um vulto solitário entre as fendas abrasivas: Diablo, o eterno observador do ciclo de ruínas e chamas. Ele não envelhece, não fala, apenas caminha onde o tempo se contorce.

O viajante Elias não buscava o fim do fogo, mas a origem do seu retorno incessante. No ponto mais profundo das galerias quentes, encontrou Diablo. O vulto encapuzado, feito de ausência e calor, estava parado, testemunho silencioso. Elias derrubou seu lampião, e na escuridão, sentiu a onda de memória: a ganância do gerente da mina, a avareza que gerou a primeira faísca, e o arrependimento afogado dos soterrados.

Diablo não era a maldição, mas a personificação da falha moral da vila. O fogo persistia porque a verdade não fora dita.

"A culpa não é do chão," Elias declarou, ajoelhado. "É do homem. O fogo começou pela avareza. E o ciclo reinicia porque ninguém se arrepende em voz alta."

O vulto de Diablo, pela primeira vez, se virou. A brasa suspensa onde deveriam estar seus olhos se desfez em incontáveis cinzas. O chão tremeu em um ajuste profundo. O calor abrasivo se tornou suave e morno.

Quando Elias subiu, viu a cidade em ruínas, mas em um silêncio verdadeiro. A última brasa se apagara. A cidade de Diablo, enfim, encontrou um descanso frio, transformada em um monumento mudo à verdade que libertou a memória.