Quando o viajante desceu às minas, o ar parecia respirar com ele — pesado, quente, saturado de lembranças que o mundo já havia esquecido. Cada passo ecoava contra as rochas negras, onde o tempo se misturava à poeira e ao medo. As tochas tremulavam, mas não havia vento ali. Apenas uma presença, antiga e paciente, aguardando o retorno inevitável.
As paredes começaram a pulsar, vivas, como se o coração da terra batesse de novo. Das fendas, exalava-se um fogo contido, e a sombra tomou forma. Diablo estava ali — não como fera, nem como deus, mas como a memória viva do pecado.
O viajante ergueu sua lâmina, mas a chama que o envolvia não vinha do aço. Era o fogo de todas as vidas perdidas, de todos os gritos que a vila já proferira. Cada alma ardia dentro dele, pedindo que o ciclo terminasse.
“Tu voltaste”, disse a voz sem som, reverberando dentro da mente. “Mas nada volta inteiro.”
Nesse instante, o viajante compreendeu. Não havia vitória — apenas escolha. Ele poderia destruir o que restava do mal e consigo mesmo, ou abandonar as ruínas à própria sorte, permitindo que o fogo voltasse a nascer.
Com o olhar fixo no abismo ardente, o viajante cravou a espada no chão. Um rugido partiu a terra, misto de dor e libertação. As chamas o engoliram, e o mundo tremeu — depois, silêncio.
Quando a manhã chegou, a vila repousava sob cinzas frias. As chamas haviam cessado, e com elas, o peso da maldição. As pessoas que restaram diziam ver um vulto nas colinas, caminhando em paz, dissolvendo-se com o vento.
E assim, pela primeira vez, o fogo não voltou.
Mas em cada sombra que o sol projeta, o nome proibido ainda ecoa —
não em ameaça, mas em lembrança.