Adele não queria ter que sair do carro quando ele parou bem em frente à antiga casa de sua avó. Na verdade, ela não queria nem mesmo ter entrado no carro duas horas antes, quando o caminhão de mudanças levou tudo da sua antiga casa. Mas o que ela poderia fazer? Era apenas uma criança, e ninguém parecia se importar com o que ela queria.
O novo emprego do pai na cidade nova era mais importante do que os amigos da escola de Adele, ou a pizzaria que ela adorava, ou o cinema, ou a praça à qual ela já estava acostumada a ir tomar sorvete todos os sábados e domingos. Mas a pior notícia viria em dois dias, quando Adele, junto da mãe, desempacotou as últimas caixas com os móveis do novo e empoleirado quarto dela. Seu urso preferido não estava lá. Não estava em nenhum lugar dentre todas as inúmeras caixas que haviam sido espalhadas pela casa grande e velha. Adele chorou escondida dos pais ao perceber que nunca mais veria seu ursinho. Ela não queria que eles viessem lhe dizer que tudo iria ficar bem, pois sabia que era mentira.
Sem ter muito o que fazer a respeito, Adele explorou a antiga casa de sua avó. Na maioria dos lugares encontrou poeira, teias de aranha, insetos mortos e vivos. Sua última esperança de diversão foi encontrada no sótão, onde ela encontrou ainda mais poeira e muitos móveis cobertos por tecidos brancos. A sorte de Adele é que ela adorava histórias de terror, por isso, não se assustou ao caminhar entre os lençóis, que mais pareciam fantasmas ao seu redor.
Tropeçou em uma caixa, onde um pequeno urso de pelúcia, gasto e sujo de poeira, com as costuras abertas e estranhas asas, pareceu olhar para ela com seus olhos de botão brilhante. Adele sorriu, rapidamente o pegando para si.
Naquela noite, enquanto Adele dormia, o pequeno urso Auriel despertou. A lua minguante brilhava no céu. Auriel flutuou com facilidade, percebendo que suas costuras haviam sido consertadas. Ele estava limpo e bem cuidado. Olhou para a humana dormindo calmamente na cama de dossel, a mesma a quem, há muitos anos, pertencera sua antiga dona. Auriel abriu a janela, que rangeu um pouco, olhou para a criança humana e sorriu. Depois de tantos anos, ele finalmente tinha um lugar para onde voltar.
Nickname: Cheussye