O viajante atravessou o vale coberto de cinzas, onde antes as colinas eram verdes e o riso das crianças dançava com o vento. Agora, só restavam troncos retorcidos e o farfalhar das brasas moribundas. Cada passo o levava mais fundo no coração do inferno esquecido.... as minas, que um dia sustentaram a vila, e agora abrigavam apenas o sussurro de algo antigo, eterno.
O ar tremia. As pedras choravam um suor rubro.
E lá estava ele.
Diablo, o Eterno Observador, emergia da penumbra. Não andava... deslizava, como se o próprio tempo abrisse espaço para que passasse. O capuz ocultava seu rosto, mas os olhos.. duas fornalhas sem chama queimavam dentro do nada. O viajante ergueu a lâmina, sabendo que o aço nada significava diante do que se erguia à sua frente. Ainda assim, avançou.
— O ciclo... precisa terminar — murmurou.
A voz de Diablo ecoou sem som, uma vibração que sacudiu a alma:
“Nada termina. Tudo retorna.”
A terra se abriu. Ecos de gritos antigos escaparam das fendas. O viajante sentiu as memórias da vila — as risadas, os rostos, as promessas — queimando dentro dele, misturando-se ao fogo que consumia o ar. Então, num lampejo de desespero e fé, ele fincou a espada no chão, cravando-a no coração pulsante das minas.
O aço se fundiu à pedra. A luz se espalhou como um sol engasgado.
Diablo recuou, o capuz tremulando, dissolvendo-se em fagulhas e sombras.
Por um instante, o silêncio reinou.
Depois, o vento soprou — frio, puro.
Quando o viajante abriu os olhos, o fogo havia cessado. As ruínas ainda fumegavam, mas a terra estava quieta, em paz. A vila não voltaria a ser o que fora, mas enfim o tempo voltou a correr.
Ao longe, nas cinzas, algo brilhou: o fragmento de um chifre carbonizado.
O viajante o recolheu, e jurou enterrá-lo onde o sol jamais tocasse.
Porque sabia — no fundo do silêncio — que o fogo nunca morre, apenas dorme, à espera do próximo olhar que o invoque.