Muito, muito além da nossa galáxia, onde só os corajosos conseguem decifrar, existe um planeta redondo e imenso, cuja superfície é dividida por uma linha invisível. É quase como se o próprio universo tivesse decidido riscar ali um "não ultrapasse".
De um lado, a atmosfera é quente. Do outro, tudo é tão congelado.
Entre esses dois extremos, existe uma barreira. Invisível aos olhos, mas sentida por qualquer criatura que se atreva a cruzá-la. E é justamente por isso que quase ninguém ousa pisar ali.
Quase ninguém.
Existe, no entanto, Bellona. Uma humana de olhar curioso. Ela veio de um planetinha bem distante, numa nave feita de restos de satélites e coragem.
Bellona não tinha medo das diferenças climáticas daquele mundo. Pelo contrário: amava cada particularidade absurda daquele planeta hostil. Para ela, era como um quebra-cabeça esperando para ser montado.
"Se a natureza dividiu este lugar ao meio, então tem um porquê... e eu vou descobrir!", dizia ela, com sua mochila nas costas e um cachecol térmico que mudava de cor conforme a temperatura.
E assim começou sua aventura.
Ela atravessou o lado escaldante, enfrentando redemoinhos de cinzas. No lado congelante, as coisas eram ainda mais estranhas. Lá, Bellona descobriu que o som era a única coisa que gerava calor por lá. Cantava e deslizava sobre o gelo.
Quanto mais explorava, mais Bellona percebia que aquele planeta não era apenas dividido. Ele era um planeta em conflito. A barreira no centro, segundo suas observações, parecia pulsar — como um coração indeciso entre bater quente ou frio.
Bellona decidiu montar acampamento bem no meio da fronteira. Ali, onde ninguém ousava permanecer. E, dia após dia, estudava os humores do planeta.
Foi então que ela começou a ouvir... sons.
Não eram vozes humanas. Eram diferentes de tudo o que os registros científicos conheciam. Sons que mudavam de acordo com as emoções climáticas daquele lugar.
E foi nesse momento que Bellona entendeu:
Aquele mundo sentia.
O planeta não era apenas dividido. Tinha sido ferido. Alguém ou alguma coisa havia separado suas duas metades há muito, muito tempo. E desde então, buscava equilíbrio. Como se dissesse: "quero ser inteiro de novo".
Bellona deixou de ser apenas uma exploradora. Tornou-se uma tradutora do planeta. Começou a construir uma ponte entre os dois lados. Não uma ponte qualquer. Uma sinfonia de calor e gelo, construída com antenas emocionais.
E assim, todos os dias, ela permanecia ali: sentada no meio da fronteira, ouvindo o planeta e respondendo com batidas suaves no solo.
Porque, às vezes, para curar um mundo dividido, não é preciso dominá-lo.
É preciso entendê-lo.
E aquele planeta, aos poucos, começava a responder.
Moonberry!