No começo, foi um alívio.
Tomar aquele comprimido rosa me trouxe paz. As lembranças dolorosas sumiram como se nunca tivessem existido. Não chorei mais por ninguém, não tremi ao ouvir aquela música que antes me despedaçava por dentro. Finalmente, consegui dormir uma noite inteira sem o peso de um coração partido. Mas, com o tempo, a calmaria virou vazio. As risadas perderam o gosto, os abraços ficaram mornos, e até o amor… deixou de existir. Sem dor, eu também perdi a beleza dos reencontros, o calor das reconciliações, a força de um “desculpa” sentido. Eu andava por entre as pessoas como se fosse feita de fumaça: sem feridas, mas também sem alma.
Hoje, olhando para o espelho, não sei mais quem sou. Porque, sem as cicatrizes que me formaram, o que restou de mim? A verdade é que aprendi que a dor não é inimiga: ela ensina, transforma, molda. E por mais que machuque, é a prova de que vivi, que amei intensamente, que senti de verdade. Se eu pudesse, eu devolveria cada comprimido. Eu aceitaria novamente os dias de choro, os olhos inchados, a saudade latejando. Porque só quem sente a dor entende o valor de um amor verdadeiro. E eu quero sentir. Quero ser inteira, mesmo que isso signifique quebrar de novo.