Dizia-se que, em noites de lua minguante, o ursinho ganhava vida e voava vagarosamente. Ele não procurava aventuras, mas memórias. Visitava petizes que haviam perdido seus brinquedos favoritos, adultos que esqueceram seus sonhos de infância e idosos que guardavam memórias.
Ao se aproximar, o ar mudava levemente tornava-se mais suave, como se o tempo respirasse fundo. Ninguém o via de verdade, mas todos o sentiam: na brisa que embalava as cortinas, no sussurro quase mudo entre as folhas, no conforto inexplicável que surgia ao fechar os olhos.
O ursinho não falava, mas escutava. De cada criança, recolhia um suspiro. De cada adulto, um fragmento de riso esquecido. Dos velhinhos, lágrimas que já haviam secado, mas não sido esquecidas. Em seu pequeno coração de retalhos, costurava cada lembrança com carinho, guardando-as como se fossem estrelas cadentes únicas, breves e preciosas.
E antes do nascer do sol, voltava silenciosamente para sua caixa no sótão. Lá, repousava entre poeiras e lembranças, como quem espera o momento certo para, mais uma vez, visitar o mundo adormecido e lembrar às pessoas de onde vieram, e do que ainda são feitas.
Porque, no fundo, todos têm um pedaço de infância guardado em algum canto só precisam de um ursinho com asas para ajudá-los a reencontrar.