No começo, parecia perfeito. Nada mais doía, ninguém mais chorava. A vida seguiu em paz, mas uma paz estranha, sem sofrimentos ou sentimentos ruins. Foi aí que percebemos, sentir falta, sofrer um pouco, até ficar triste, tudo isso fazia parte do que era ser humano. Precisamos dos corações partidos e das frustações para poder evoluir.
Então decidi voltar, não foi fácil, tive que reaprender a ouvir músicas que me lembravam pessoas, assistir filmes que apertavam o peito e, principalmente, deixar que as lembranças me visitassem, mesmo aquelas que eu tinha tentando apagar. Me permiti sentir, sem medo e sem comprimidos rosados.
Pois percebi que para ser humano, a gente precisa sentir, seja os sentimentos bons e os sentimentos ruins, voltei a escrever cartas que nunca enviei, a rir com vontade e a chorar quando ninguém via. Cada detalhe da vida começou a ter mais cor. Um café quente num dia frio, um abraço inesperado, um silêncio compartilhado, um amor não correspondido, tudo voltou a ter peso.
Entendi que a dor não é inimiga. Ela te ensina, molda, evolui e abre espaço para os amores de verdade.
E, aos poucos, a intensidade foi voltando, junto com os sentimentos quase esquecidos.