Poucos acreditavam nessas histórias, é verdade. Para muitos, era só mais historia de infância, daquelas inventadas por avós para entreter seus netos. Mas havia quem jurasse ter visto, pela fresta da janela, a silhueta do ursinho voando no céu, suas asas costuradas com linha dourada, batendo devagar.
Chamavam de Auriel, mas ninguém sabia ao certo se esse era mesmo seu nome. Alguns diziam que foi dado por uma garotinha chamada Elisa, há muito tempo atrás, antes de ela se mudar para longe, ou talvez para outro plano. Outros afirmavam que o nome mudava conforme o dono.
Naquela noite, com a lua minguante no céu, Auriel pousou silencioso no parapeito de uma janela. Lá dentro, uma criança soluçava baixinho. Seu nome era Miguel, e naquela tarde perdeu seu brinquedo favorito. Não era só um brinquedo, era seu porto seguro. Sem ele, Miguel se sentia pequeno demais para enfrentar os monstros imaginários que viviam no seu quarto.
Auriel entrou devagar, sem fazer barulho. O ursinho pousou ao lado da cama e esticou uma de suas asas, como se abraçasse o menino, levanto um sentimento de saudade e acolhimento. Então, do bolso em seu peito, tirou uma pequena estrela de pano, meio desbotada, e deixou sobre o travesseiro.
Ao amanhecer, Miguel acordou com um brilho estranho no quarto. A estrela parecia pulsar leve, como coração de nuvem. Não encontrou seu boneco, mas, curiosamente, não sentiu falta. Havia algo novo dentro dele, algo sereno. Como se alguém tivesse devolvido seu porto seguro durante a noite.
E Auriel, já voava outra vez, cruzando telhados, deslizando entre árvores altas, atrás de novas histórias para fazer em silêncio.