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A Travessia de Bellona

 

Num ponto isolado do universo, onde o tempo parece desacelerar e as estrelas quase sussurram, existe um planeta chamado Bellona. Ele é gigante, imponente, mas quase inabitável. Suas condições climáticas são tão extremas que só de chegar perto já dá pra sentir o perigo. O planeta é dividido por uma barreira invisível que separa duas metades completamente opostas — uma gélida como um deserto de gelo eterno, e outra escaldante, com tempestades de calor que fariam qualquer equipamento derreter em segundos.

 

Mesmo sendo tão inóspito, existe alguém disposto a enfrentar tudo isso: Kael Orion. Um explorador solitário, curioso até demais e teimoso o suficiente pra se meter onde ninguém mais ousou. Ele não veio atrás de fama, nem de glória. Kael só queria entender. Saber por que Bellona era assim. Saber se havia alguma lógica naquela divisão absurda.

 

Sua nave, batizada de Éter VIII, pousou no lado congelado do planeta. A recepção? Ventos cortantes, quase como facas, e um silêncio desconfortável que fazia tudo parecer abandonado há milênios. Kael improvisou uma base com o que tinha e começou a observar. Passou dias anotando padrões climáticos, testando sensores e tentando não ser morto por rajadas de gelo ou quedas súbitas de pressão.

 

Foi numa dessas madrugadas, enquanto ajustava uma antena, que ele percebeu algo estranho. Um tipo de som vindo da barreira. Não era bem um som — mais como uma vibração, um chamado. Como se o próprio planeta estivesse tentando se comunicar. E foi aí que Kael decidiu: precisava chegar até o centro daquilo tudo. Precisava atravessar.

 

A jornada foi um pesadelo. Nevascas com partículas metálicas, buracos de gravidade instável, falhas no traje... Em alguns momentos, ele quase desistiu. Mas quando finalmente chegou à barreira, o impossível aconteceu: ele foi erguido no ar, como se estivesse flutuando. Não havia vento, nem calor, nem frio. Só uma paz estranha, como se estivesse no meio de um sonho.

 

De repente, tudo escureceu.

 

Kael acordou do outro lado. Ainda estava em Bellona, mas num ambiente completamente diferente. O calor era forte, mas suportável. O chão era coberto por cristais que pulsavam levemente, como se respirassem. E o céu... o céu parecia ter vida própria, se mexendo em tons dourados.

 

Enquanto tentava entender onde estava, uma criatura se aproximou. Não dava pra dizer se era um ser vivo ou algum tipo de tecnologia antiga. Ela não falou — emitiu um som grave, quase hipnótico. Mais tarde, Kael conseguiu traduzir parte da mensagem: “Você cruzou. Você entendeu. Agora, deve escolher.”

 

A escolha era simples, mas cruel: voltar para a Terra com tudo o que descobriu, ou ficar e continuar aprendendo, sem nunca mais ver seu planeta natal.

 

Kael respirou fundo. Olhou para o céu dourado. E, sem dizer uma palavra, caminhou em direção à floresta de cristais, aceitando que algumas viagens não têm volta — mas têm sentido.